Sempre tive certo preconceito com as gestantes que desde cedo no início gravidez já providenciam o contato com uma “enfermeira” (em geral não são enfermeiras, e sim técnicas ou auxiliares de enfermagem) para cuidar de seu filho logo que nasça. Eu pensava, será mesmo preciso? A gente espera nove meses para o nascimento deste ser, vai se afeiçoando pouco a pouco e no final da gestação já estamos perdidamente apaixonadas por ele sem ao menos ver seu rosto. E, quando nasce, devemos entregar para outra pessoa cuidar? Será que fazemos isso por insegurança ou pelo trabalho que exige velar por alguém tão indefeso, obrigando-nos a abrir mão de outras coisas mais importantes? Ou são ambos os motivos?
Quando me tornei avó, passei a entender a raiz desta minha implicância. Essas “enfermeiras”, babás especializadas em cuidar de recém-natos e lactentes, altamente eficazes no cuidado deles, na verdade, não se limitam a ajudar as mães, geralmente de primeira viagem, inseguras e inexperientes. Elas a substituem, passam a ditar as regras, a determinar o que deve e não deve ser feito, assumem o papel de protagonistas no cuidado do bebê, ou melhor, ocupam e usurpam o lugar da mãe. A mãe passa a ser um personagem secundário, não tendo mais autoridade sobre o cuidado de seu próprio filho, assim como as avós ou mesmo o pai da criança.
Realmente o pós-parto imediato e os primeiros meses do bebê, principalmente para a mãe de primeira viagem é um momento difícil da vida de uma mulher. Ela sente desconforto nos pontos do parto ou da cesariana, tem dor no seio todo quando há a descida do leite e depois nos mamilos devido à forte sucção do bebê e por causa das rachaduras tão frequentes e dolorosas à amamentação, que às vezes até sangram. Fora isso, não pode mais dormir um sono maior do que três horas, o que é extremamente cansativo para quem dormia a noite toda e o tempo que quisesse. Não é infrequente também sentimentos de depressão e impotência diante de um ser tão sensível e dependente.
É muito grande a mudança de vida e a insegurança diante da responsabilidade por uma vida tão frágil e valiosa para nós. Esse é um prato feito para alguém “cheia de experiência e de conhecimento” ocupar o seu lugar.
Bem, a título de conclusão aí vai um recado para as grávidas e recém-mães: não sou contra que enfermeiras e babás especializadas lhe prestem um auxílio neste momento tão singular. Mas, não deixem que elas assumam o seu lugar. O filho é seu e precisa continuar tendo a sensação de que lhe pertence, que são um só corpo, como se sentia no período intraútero. Esta percepção continua nos primeiros meses de vida do bebê até que aos poucos vai desaparecendo à medida que sente que são corpos distintos. Isso faz parte do desenvolvimento infantil e é fundamental para construir os alicerces de nossa personalidade e autoestima.
Stella R. Taquette